Música faz parte da minha vida desde que me lembro. Não tão cedo como algumas crianças que conheço, mas ainda assim, cedo o bastante para me ter marcado para o resto da minha vida e me ter feito companhia, através de aulas e horários, durante metade dela. Ainda antes de começar a aprender música, há sempre as canções infantis que se aprendem quando somos pequenos, e também, no meu caso, os CD's de música clássica em casa. Como eu me lembro, eu pedi aos meus pais para aprender "aquele instrumento que soava bem" ao ouvir um desses CD's. Mas a minha mente deve ter fabricado essas memórias, porque o que os meus pais contam que, tal como na restante maioria dos casos, foi ideia deles de me pôr em contacto com a música e ver se eu gostava e (de alguma maneira mais ou menos relevante) se tinha jeito.
Ora a segunda parte eu não sei, ainda hoje - nunca soube se quando a minha primeira professora lhes dizia que sim era para ser simpática ou evitar a saída de um aluno da escola - porque, vejamos, estudar num conservatório paga-se. O que sei é que, no primeiro ano em que estive na escola de música, num "atelier" onde experimentámos todos os instrumentos e assistíamos a audições que estavam a acontecer no conservatório, eu escolhi violino e nem por um momento me arrependi. E adoro música e aquilo que ela me trouxe.
Já agora, a instituição, tratando-a por este nome pomposo e aparentemente forçado, tem não só a escola (iniciação - onde se começa a aprender) mas também o dito conservatório, além de escola superior (faculdade, portanto) e é a sede de uma das maiores orquestras lisboetas)
Os dois primeiros anos foi Iniciação e depois entrei para o Conservatório, o qual só deixei no fim do ano 2011, antes de vir para o Brasil. Fiz até ao 7ºgrau, e passei mais de metade da minha vida naquela escola - quase 10 anos (tenho 16). Durante o meu percurso musical, por assim dizer, mudei de método de ensino (do tradicional para o Suzuki), assim com ode professora antes disso, e tornei-me parte dum grupo de violinos (parte do método Suzuki é aulas de grupo de 2 em 2 semanas). Esse grupo mudou a minha vida, a minha maneira de ver e de estar no Conservatório e com o violino. Numa altura em que estava a sentir tudo como uma obrigação, e andava sem grande entusiasmo, a minha professora deu-me a conhecer este grupo fantástico, de todas as idades (3 a 18), que me incentivou a continuar e, mais do que tudo, me levou a gostar e a ter orgulho em tocar violino. Também me deu o prazer de fazer a diferença com os concertos de solidariedade que todos os anos fazíamos, e deu-me o privilégio de ir a um festival internacional que se tornou a melhor experiência que tive na minha vida pela maneira como, não sei bem como, uniu todo o grupo, pela minha perspectiva. Eu entrei tarde nesse "mundo" e foi um milagre. O grupo tornou-se a minha outra família, e ir ao Conservatório ter quaisquer aulas nunca foi um tormento a partir daí.
Quando vim embora aquilo que esperava sentir mais falta, e não me enganei, era da música. Da minha rotina louca de aulas das 8h às 20h, de andar de autocarro e ir para a escola de música, de ver outros colegas, outros sítios, de ter aulas diferentes, dos concertos... Nunca pensei em seguir profissionalmente, mas a música ficou para sempre na minha vida. Enquanto mudava de escolas, ali permanecia no mesmo sítio, com as mesmas pessoas mas sempre conhecendo novas, e tornou-se a minha segunda casa.
Ao vir embora decidi, meio que na minha cabeça, não ir para um conservatório. Talvez volte atrás nessa decisão, mas até hoje ainda não apareceu a oportunidade, não conheço nenhum professor(a) de violino aqui, e acabei por ficar sem qualquer actividade musical por mais de seis meses. Até que apareceu um mail do colégio a dizer que estavam à procura de alunos entre os 11 e os 17 anos que estivessem interessados a participar no coro do colégio, que vai participar num festival internacional nos Estados Unidos e precisa de mais gente. E lá fui eu. A minha experiência em coros foi de três anos, mais ao menos, mas nas aulas de Formação musical (teoria, basicamente) cantávamos e tenho as bases todas de canto coral - e também passei óptimos momentos no coro na minha escola de música.
As condições estavam todas reunidas - eu precisava de qualquer forma de actividade musical, e o coro "precisava" de mim. E lá estou eu. Ensaios à terça, duas horas, e eu estou feliz com isso. Neste último ensaio duas colegas minhas foram, porque ouviram falar do projecto e tinham ficado curiosas, mas com medo de serem as únicas da nossa idade lá, não foram ao início. Até ficarem a saber que eu estou a participar, e assim já não eram as únicas. E pronto. Com isso, ainda surge a hipótese de conseguir confraternizar com as minhas colegas e, quem sabe, construir uma amizade. Seria a cereja em cima do bolo...
Por hoje é tudo. Até à próxima.
Beijinhos