quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Poder de ser um Aluno... num Colégio Privado

Olá, e bem-vindos a uma digressão da Mariana.
Ok, o que vos trago hoje é decorrente de vários acontecimentos me puseram os cabelos em pé ao longo destes dois anos em que fui aluna num colégio privado aqui no Brasil. Não sei se isto aconteceria num em Portugal, mas sei que nunca me aconteceu na escola pública aí.
Num colégio nós pagamos para estudar diretamente ao estabelecimento. Nós pagamos uma fortuna (a sério, uma fortuna. Os colégios daqui têm preços ridículos… boa coisa eu ter ganho bolsa de mérito, portanto) por uma educação que nos permita entrar na universidade que queremos sem sete anos de cursinho, porque a educação pública no Brasil é, infelizmente, assim tão precária. Nós pagamos pelos equipamentos, pelos professores… e pelas plásticas da dona do império que é o colégio. E este facto, compreendido pelos alunos desde muito cedo em grande parte devido aos pais, dá-lhes um grande poder pois vêm-se no direito de protestar… sobre tudo, mas sobretudo sobre aquilo que não deveria ser tão simplesmente questionado.
 Há vários outros problemas que poderiam ser discutidos: a espera de um ano inteiro para consertarem o projetor da sala (que ainda não está arranjado), o pagamento de qualquer viagem, convívio ou material, sempre na casa das centenas de reais,… Mas disso os meus colegas não se queixam. Dos pagamentos exorbitantes à parte feitos para QUALQUER COISA eles acham mal, mas levantam os ombros e abrem a carteira.
É nos professores que eles se dão a todo o tipo de luxos. E não que eu não me queixe – em Portugal as pessoas meio que me achavam até opinativa demais, diziam que reclamava muito. Portanto, para eu dizer que aqui é outro nível… acreditem em mim. Eu vi eles se queixarem de uma questão de uma prova que não estávamos à espera que surgisse até o professor a anular. Era uma questão mais difícil e, porventura, um pouco inesperada, mas a vida é assim e eu aceitei - os meus colegas, não. Eles fizeram tanto e tanto barulho que a questão foi anulada e a razão foi dada aos alunos. A minha única colega que acertou aceitou perder o ponto, e todos os outros ficaram felizes. Este ano a direção passou um questionário para avaliarmos os desempenhos dos professores nas aulas, daqueles que muitas vezes respondemos sem pensar muito porque achamos que ninguém vai prestar atenção. Mas eles prestaram, e deixaram evidente o impacto dessas avaliações nos professores – uma professora foi despedida ainda as aulas não tinham terminado, e faltava uma semana para tal.
A sensação de poder que isto dá aos alunos é aterrorizante. Eles dizem “eu pago para você me ensinar, então você tem que me dar razão”. Pensarem que estão acima dos professores porque é com o seu dinheiro que se pagam os seus ordenados é a pior maneira de criar uma relação de respeito entre aluno-professor. Ainda bem que essa relação tem muitos outros aspectos, bem mais positivos: não fosse a afetividade entre uns e outros e a questão do respeito poderia muito bem tomar outro rumo. Sente-se que, se não gostarem do professor, podem fazer com que facilmente ele se vá embora, basta que não seja simpático, engraçado ou atencioso como eles querem. Deve ser muito assustador para um professor saber isto, saber que ao trabalhar num colégio privado (o que muitos fazem porque recebem mal no ensino público), estão sujeitos a este tipo de tratamento pois os alunos é que pagam pelo seu próprio ensino. Nunca tinha pensado nisso até ver com os meus próprios olhos, pois nessa questão somos muito mais submissos aos professores, pelo menos nas escolas públicas onde estudei.

Tenho muita pena que a minha, a próxima e todas as gerações de alunos de colégios privados cresçam com esta mentalidade. Não porque é ou não realista, mas porque é desrespeitosa. Não deve importar a riqueza, mas o conhecimento e, um pouco (mas não absolutamente, ou parecerá uma escola na ditadura), a hierarquia escolar. O professor merece confiança, mas também respeito. Se não o tiver, como pode ensinar? Como podem alunos aprender se questionam a autoridade e a capacidade do seu professor? Têm de confiar, e também de desconectar o lado educador do lado pessoal do professor: podem simpatizar muito com ele, mas ele não ser um bom professor, assim como o contrário pode e muitas vezes acontece. E a escola não devia deixar tão aparente o poder que os alunos efetivamente têm: só porque acham que sim, não quer dizer que a direção deva simplesmente despedir o professor de quem eles não gostam. Mais avaliações deveriam ser feitas, pois só a palavra dos alunos não pode ser tida como toda poderosa, ou têm em mãos uma massa indomável de meninos e meninas armados em deuses omnipotentes graças ao seu poder monetário, colocado acima da formação e capacidade do professor.
E por hoje é tudo,
Até à próxima!
Mariana

Sem comentários:

Enviar um comentário