Olá, e bem-vindos a uma
digressão da Mariana.
Ok, o que vos trago hoje
é decorrente de vários acontecimentos me puseram os cabelos em pé ao longo
destes dois anos em que fui aluna num colégio privado aqui no Brasil. Não sei
se isto aconteceria num em Portugal, mas sei que nunca me aconteceu na escola
pública aí.
Num colégio nós pagamos
para estudar diretamente ao estabelecimento. Nós pagamos uma fortuna (a sério,
uma fortuna. Os colégios daqui têm preços ridículos… boa coisa eu ter ganho
bolsa de mérito, portanto) por uma educação que nos permita entrar na
universidade que queremos sem sete anos de cursinho, porque a educação pública
no Brasil é, infelizmente, assim tão precária. Nós pagamos pelos equipamentos,
pelos professores… e pelas plásticas da dona do império que é o colégio. E este
facto, compreendido pelos alunos desde muito cedo em grande parte devido aos
pais, dá-lhes um grande poder pois vêm-se no direito de protestar… sobre tudo,
mas sobretudo sobre aquilo que não deveria ser tão simplesmente questionado.
Há vários outros problemas que poderiam ser
discutidos: a espera de um ano inteiro para consertarem o projetor da sala (que
ainda não está arranjado), o pagamento de qualquer viagem, convívio ou material,
sempre na casa das centenas de reais,… Mas disso os meus colegas não se queixam.
Dos pagamentos exorbitantes à parte feitos para QUALQUER COISA eles acham mal,
mas levantam os ombros e abrem a carteira.
É nos professores que
eles se dão a todo o tipo de luxos. E não que eu não me queixe – em Portugal as
pessoas meio que me achavam até opinativa demais, diziam que reclamava muito.
Portanto, para eu dizer que aqui é outro nível… acreditem em mim. Eu vi eles se
queixarem de uma questão de uma prova que não estávamos à espera que surgisse
até o professor a anular. Era uma questão mais difícil e, porventura, um pouco
inesperada, mas a vida é assim e eu aceitei - os meus colegas, não. Eles
fizeram tanto e tanto barulho que a questão foi anulada e a razão foi dada aos
alunos. A minha única colega que acertou aceitou perder o ponto, e todos os
outros ficaram felizes. Este ano a direção passou um questionário para
avaliarmos os desempenhos dos professores nas aulas, daqueles que muitas vezes
respondemos sem pensar muito porque achamos que ninguém vai prestar atenção.
Mas eles prestaram, e deixaram evidente o impacto dessas avaliações nos
professores – uma professora foi despedida ainda as aulas não tinham terminado,
e faltava uma semana para tal.
A sensação de poder que
isto dá aos alunos é aterrorizante. Eles dizem “eu pago para você me ensinar, então
você tem que me dar razão”. Pensarem que estão acima dos professores porque é
com o seu dinheiro que se pagam os seus ordenados é a pior maneira de criar uma
relação de respeito entre aluno-professor. Ainda bem que essa relação tem
muitos outros aspectos, bem mais positivos: não fosse a afetividade entre uns e
outros e a questão do respeito poderia muito bem tomar outro rumo. Sente-se
que, se não gostarem do professor, podem fazer com que facilmente ele se vá
embora, basta que não seja simpático, engraçado ou atencioso como eles querem.
Deve ser muito assustador para um professor saber isto, saber que ao trabalhar
num colégio privado (o que muitos fazem porque recebem mal no ensino público),
estão sujeitos a este tipo de tratamento pois os alunos é que pagam pelo seu próprio
ensino. Nunca tinha pensado nisso até ver com os meus próprios olhos, pois
nessa questão somos muito mais submissos aos professores, pelo menos nas escolas
públicas onde estudei.
Tenho muita pena que a minha,
a próxima e todas as gerações de alunos de colégios privados cresçam com esta
mentalidade. Não porque é ou não realista, mas porque é desrespeitosa. Não deve
importar a riqueza, mas o conhecimento e, um pouco (mas não absolutamente, ou
parecerá uma escola na ditadura), a hierarquia escolar. O professor merece
confiança, mas também respeito. Se não o tiver, como pode ensinar? Como podem
alunos aprender se questionam a autoridade e a capacidade do seu professor? Têm
de confiar, e também de desconectar o lado educador do lado pessoal do
professor: podem simpatizar muito com ele, mas ele não ser um bom professor,
assim como o contrário pode e muitas vezes acontece. E a escola não devia deixar
tão aparente o poder que os alunos efetivamente têm: só porque acham que sim, não
quer dizer que a direção deva simplesmente despedir o professor de quem eles não
gostam. Mais avaliações deveriam ser feitas, pois só a palavra dos alunos não pode
ser tida como toda poderosa, ou têm em mãos uma massa indomável de meninos e
meninas armados em deuses omnipotentes graças ao seu poder monetário, colocado
acima da formação e capacidade do professor.
E por hoje é tudo,
Até à próxima!
Mariana
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