Há dias em que me sinto bem aqui. Não super feliz e contente, mas bem. Essas alturas em que consigo conviver com o facto de que estou tão longe de casa são de ouro... Isto porque depois também há outras alturas em que me sinto completamente presa. E desta prisão não se foge, porque não tenho uma duração pré-estabelecida da minha "estadia" por cá, nem tenho para onde fugir.
O Verão chegou. Não tenho aulas, não tenho ensaios... e também não saio de casa, não posso ir à cidade, não converso nem vejo ninguém. Sinto-me presa destas quatro paredes. Viver num residencial pode ser uma opção segura. Pode ser até bonito - um bom local para pais criarem filhos, dá para ter cão (como eu tenho), dá para passear... Mas passear para onde? Assim como acho que miúdos que crescem nesta zona estupidamente limitada não são saudáveis a menos que percebam que há mais coisas para ver fora destes muros, também acho que passear AQUI é o mais ridículo que há. Passear a cachorra, sim, para isso serve. Mas de que serve andar e só ver casas?! Nada originais, sequer - não há um pedaço de história deste país aqui, todas estas casas são imitações. Imitações suíças, imitações americanas!
Em Lisboa, chegava o Verão, as férias escolares, e eu ainda tinha, até ao fim do mês de Junho, aulas no conservatório. E depois, estava em casa da minha avó. Quando me cansava de ver filmes e de não fazer nada, podia-me pôr num autocarro com uma amiga e ir para a baixa. Ir ver o rio. Sentar-me no Cais das Colunas, ver a Rua Augusta, andar no elétrico 28. Podia ver o céu super azul, onde o sol quente nos queima e nos obriga a almoçar abrigados. Podia esperar até as actividades começarem: o workshop de orquestra; as férias com os avós, todos os anos, no Algarve; as viagens com os pais no fim de Agosto / início de Setembro. Visitar o mundo, ver novos lugares, mas conhecer o meu. Descobrir a minha cidade. Também tinha os amigos - podia passar tempo com eles. Ir a museus, conversar na rua, comer gelados, ir às compras.
Eu fazia muitas dessas coisas. No Inverno (daqui, em Julho), fui a Portugal e fiz muitas dessas coisas. Todas elas, na verdade, excepto o Workshop de música... porque já não tenho isso. Eu não estava em férias de Verão, mas desfrutei de um mês como se estivesse. Nunca dei tanto valor à minha cidade, aos meus amigos, àqueles de quem gosto. E nunca me senti tão amada por eles também.
Mas aqui é diferente. Aqui, chegou o Verão e aquilo que me podia distrair da distância a que estou de tudo isso acabou. Agora, estou em casa. Não sou boa a correr, portanto corridas pelo residencial estão fora de questão. Não posso sair sozinha para lado nenhum. A cidade, mesmo que não me estivesse fora de alcance, é perigosa. Pelo menos eu sinto-me em perigo lá, sozinha. Nunca me atreveria a ir lá a não ser com os meus pais, num carro, directos para um sítio seguro - que normalmente acaba por ser um centro comercial. Além disso, a cidade é gigante... mas os seus edifícios são monstros de betão e não pedaços de história. É Verão, só que o céu não é azul, mas nublado por causa da humidade infernal, e o sol não me bate de frente nos olhos, mas o calor é insuportável. Para piorar as coisas, até a minha piscina decidiu entrar em "greve" com a chegada do tempo quente e húmido que por aqui está.
Neste momento, a minha luz ao fundo do túnel é saber que em menos de um mês vou estar quase duas semanas em Portugal. É pouco, e os meus amigos vão estar em aulas, mas é o que há. E a alegria com que, um ano depois, eles recebem essa notícia, comove-me mais que qualquer coisa. Não quero saber do frio que lá está. Não é só o calor que é intolerável aqui; a solidão também é.
Portanto, fico a olhar para o futuro próximo com esperança, aguardando as minhas viagens futuras, e superando assim este tempo horrível e suportando a prisão em que me encontro.
Por hoje é tudo.
Até à próxima,
beijinhos*